Olhe para um lugar onde tenha muita gente: uma praia num domingo de 40 graus, uma estação de metrô, a rua principal do centro da cidade. Pois metade deste povaréu sofre de dor-de-cotovelo.Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estimação, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos têm um amor mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.Por que isso acontece? Eu tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórica no assunto. Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo. Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim.Você sabe, o amor acaba.É mentira dizer que não. Uns acabam cedo, outros levam 10 ou 20 anos para terminar, talvez até mais. Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa: amizade, parceria, parentesco, e essa transição não é dolorida se o amor foi devorado até a rapa.Dor-de-cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia, sem falar do tempo que ninguém tem para esperar. E tem que ser vivido em sua totalidade. É preciso passar por todas as etapas: atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim.Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estar aberto para novos amores.Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade, tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e os maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade. Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo.Isso é que libera a gente para ser feliz de novo.
Martha Medeiros
Martha Medeiros
Pode parecer besteira pra muitos, mas, hoje, isso faz sentido pra mim. A primeira vez que ouvi a palavra "ciclo" sendo utilizada no contexto que foi introduzida pela autora, não compreendi o que significava. Demorou um pouco para que eu passasse a entender. Muita coisa rolou...Atualmente, acredito, sim, que exista um ciclo em todo relacionamento e se ele for interrompido antes do fim, a pessoa fica com uma barreira interna...como se sentisse algo faltando. O amor não acaba de um dia pro outro. Ele vai passando por fases...vai se tranformando. Se o ciclo chega ao fim o casal termina na boa, sem ressentimentos. Isso é legal! Acabam virarando amigos e parceiros. Com isso todo mundo ganha. Aprendi isso há pouco tempo, mas vou levar tal aprendizado por muito tempo. Pode ser que um dia eu venha mudar de idéia. Quem sabe?! A vida nos dá lição diariamente. Nos força a crescer e seguir outros caminhos. E como já diz o ditado, "errar é humano, persistir no erro é burrice", eu não costumo cair duas vezes no mesmo buraco. Por enquanto a única certeza que eu tenho é que eu luto para terminar meu ciclo.